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irmão lúcia


Terça-feira, 13.02.18

state of the art: o pendurar das botas.

passos botas.jpg

 

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por Pedro Vieira às 14:52

Sexta-feira, 29.12.17

cadernos de leitura #13

deixem.jpg

normalmente este tipo de livros é lançado em aniversários redondos, em efemérides, mas neste caso assinalam-se os 31 anos desde os incidentes de saltillo. graças a ele conseguimos perceber boa parte daquilo que se passou no méxico, o que levou ao caso saltillo, e suas consequências. em boa parte, tratou-se de um belíssimo exemplo de luta de classes, numa época em que o país atravessava mudanças profundas. e isso é muito bem explicado pelos autores. se hoje em dia parecem caricatas algumas exigências fundamentais dos jogadores de então - o direito a um passe vitalício para entrada em recintos desportivos, por exemplo - percebe-se que naquela altura os protagonistas do jogo que arrasta milhões eram mesmo os parentes pobres de um negócio que já movimentava muito dinheiro. há um trabalho de pesquisa evidente, entre consultas à imprensa dos oitentas e entrevistas nos dias de hoje, e faz-se luz sobre um processo que mudou radicalmente as estruturas anquilosadas do futebol nacional. o esforço é particularmente meritório. nota negativa apenas para o registo e linguagem escolhidos, demasiado colado aos chavões do pontapé na bola, tantas são as referências a "tentos", "certames"e "avisos à navegação". seja como for, é um volume bastante recomendável, sobretudo pela ilustração que faz de um país que mudou muito e nada. um excerto elucidativo:

(Vitor Serpa) dá um exemplo do distanciamento entre presidente da Federação e jogadores: "Chegou a ir a Saltillo e não visitou a seleção. Levou uma santinha que trazia de Portugal e pô-la na igreja de Saltillo, apanhou o avião e foi-se embora sem sequer entrar no La Torre. Não teve qualquer tipo de contacto com os jogadores e disse que não quereria ter". Joaquim Oliveira recorda-se da breve passagem de Silva Resende por Saltillo: "Chegou lá com uma Nossa Senhora de Fátima. Era tudo muito lindo, mas caiu mal nos hogadores".

 

edição tinta da china

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por Pedro Vieira às 17:10

Quarta-feira, 20.12.17

cadernos de leitura #12

jalan.jpg

um tour de force do Afonso Cruz que tem vantagens e desvantagens. muito do que passa por este "jalan jalan" (o título significa algo como passear) tem sido dito pelo Afonso em encontros literários, em artigos de jornal, em encontros mais ou menos fortuitos sentados à mesa. ideias boas, ideias recorrentes, ideias fixas. erudição sólida que arrisca cair no name dropping mas que se salva no último momento. filósofos pré-socráticos e cientistas, viagens e literatura. e sensibilidade. creio que o livro vai melhor quando se exploram os conceitos de tempo e de empatia - caros ao autor - desmanchando os discursos monolíticos da produtividade e da competição, entre outros demónios. e no entanto, diria que as ideias florescentes do autor brilham mais nos romances. assentam melhor nas tramas literárias de grande fôlego do que nestas páginas a seco. é um compêndio de cultura, de pensamento, de auto-reflexão que se percorre com gosto e curiosidade, mas a espaços sentindo saudade de um caldo literário que matize e enquadre tanta bagagem de viajante. de viajante de facto, de viajante intelectual. uma coisa é certa, somos contemporâneos de um autor que está manifestamente a construir um universo muito rico, cheio de sinapses e pontos de encontro. e isso é um privilégio, sobretudo quando podemos desfrutá-lo em ritmo de passeio.

 

edição companhia das letras

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por Pedro Vieira às 15:42

Quarta-feira, 13.12.17

cadernos de leitura #11

paris.jpg

há um distanciamento por explicar na minha relação com o livro, sobretudo porque lhe reconheço a arquitectura perfeita, a erudição absoluta, a sageza na montagem da personagem. são tantas as piscadelas de olho literárias que o leitor militante não pode deixar de sentir-se seduzido e desafiado em partes iguais. e no entanto não consegui estabelecer empatia com este "paris nunca se acaba". como se sentisse a falta de ruído, sangue, nervos. a dado momento, e embora o estilo e a verve de cada autor sejam sempre uma forma de exibição, mesmo talentosa, aqui incomoda-me uma certa prosápia que pode muito bem não estar lá. aliás, o autor que é personagem pode bem nem ter estado naquelas situações que acabaram aborrecendo-me. e isso no fundo faz todo o sentido.

edição teorema

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por Pedro Vieira às 12:53

Sexta-feira, 17.11.17

cadernos de leitura #10

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excelente síntese de um processo extremamente complexo que marcou o século XX. as principais forças em confronto, a personalidade electrizante e implacável de lenine, a guerra civil, os recuos pragmáticos, a construção do trono de aço de estaline. é uma espécie de versão digest muito bem documentada, capaz de espelhar contradições e processos internos de colisão que demonstram que a revolução não foi monolítica.nenhuma o será, afinal. fica claro o lastro que o processo deixou, nomeadamente ao nível da emancipação das mulheres, da batalha pela instrução, ao mesmo tempo que percebemos que a revolução não devora apenas os seus filhos. a espaços devorou também os seus pais. na terminologia editorial, excelente revolução de outubro para totós. 

edição tinta da china.

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por Pedro Vieira às 18:24

Quinta-feira, 16.11.17

sopro

esta semana vi pela primeira vez a "janela indiscreta", não o fiz antes porque tinha coisas combinadas. e falo disto porque vim de ver o "sopro" do Tiago Rodrigues no dona maria. ou deveria dizer o "sopro" da Cristina Vidal? não, o "sopro" é do Tiago Rodrigues. como o personagem da janela, como quase toda a gente que escreve, cria, retrata, o "sopro" canibaliza terceiros, vampiriza, desfaz e volta a montar, transformando-os em personagens. a diferença é que neste caso se estende a passadeira vermelha à entidade a quem se arrancou a biografia, num jogo de ficção e realidade sagaz, inteligente, ritmado. elipses, gags, drama, um trabalho de corta e cola notável. como o personagem da janela, o autor e encenador observa, disseca e constrói uma narrativa fazendo uso daquilo que só ele vê. ou daquilo que ele inventa para melhor chegar à verdade. à sua verdade. à verdade que quer oferecer ao espectador. à verdade que o espectador acaba desejando, seduzido pela teia urdida pelo criador. e leva a sua avante com distinção, como o homem da janela. no caso do "sopro" adivinha-se a presença da ficção, apesar de o chavão dizer que a realidade é sempre melhor. o que é facto é que aqui a ficção, manobrada com argúcia, parece ajudar ao encaixar do puzzle de uma vida, a vida da ponto Cristina Vidal. e no entanto, diria que uma boa fatia do público dá a versão dos "factos" como boa, rendendo-se ao espectáculo-homenagem a uma mulher que fez a carreira na sombra e que é puxada com justiça para as luzes do palco. eu próprio o fiz. ou seja, comprei um desejo de verosimilhança. depois, no processo de digestão, pensei no papel que o fictício terá necessariamente de desempenhar no espectáculo. e na armadilha da dramaturgia e da encenação que nos leva a acreditar num real que só o é em parte. será legítimo? diria que sim mas não tenho a resposta definitiva. uma coisa é certa, feliz o espectador que sai de uma sala com matéria para pensar. bravo.

ps: o homem da janela tinha razão, o vizinho era mesmo culpado.

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por Pedro Vieira às 11:50

Terça-feira, 14.11.17

cadernos de leitura #9

capa.jpg

o cenário é a américa do século XIX mas em muitos aspectos podia ser a américa do século XXI. apesar de a escravatura ter sido abolida há muito, a segregação e os supremacismos estão muito vivos, demasiado vivos. Cora tenta escapar ao destino de grilhetas mas a cor dificilmente o permitirá, uma história mil vezes escrita, e o autor encontra forma de contá-la de novo, de uma forma sagaz, cortante. a fábula do caminho subterrâneo, espécie de hipótese mágica de salvação, é constantemente obrigada a morder o pó do real. e o real é selvagem, apesar de fazer uso do discurso dos homens. o livro não é imprescindível - um django ou um hateful eight cumprem tão bem ou melhor o papel - mas está carregado de ideias fortes. destaco a passagem que alude aos ladrões de cadáveres, destinados a uma faculdade de medicina. corpos de negros, claro, que ninguém protege, guarda ou reclama. e curiosamente é no momento de uma pilhagem do género que um personagem se apercebe de que só na morte, e usados como iguais nas mesas de autópsia, os negros têm direito à humanidade dos brancos. no fundo a estrada subterrânea é uma boa síntese um drama sem luz evidente ao fundo do túnel.

nota ainda para os agradecimentos do autor no final do livro: aos misfits, ao bowie, ao prince, ao álbum daydream nation dos sonic youth que o acompanha em todas as empreitadas de escrita. não há como não amar.

edição Alfaguara

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por Pedro Vieira às 11:21

Domingo, 29.10.17

cadernos de leitura #8

capa.jpg

Javier Cercas é um contador que desassossega os leitores. e este livro é uma lição extraordinária, ou melhor, este livro contém uma lição extraordinária, ou melhor, este livro contém várias lições extraordinárias. uma lição de semiótica cosida de uma forma muito hábil, partindo de uma imagem cheia de significados para contar uma história mais complexa. e uma lição de política, com uma análise cirúrgica em relação aos mecanismos do poder, das correlações de forças, da vaidade inerente a esses mesmos mecanismos, surja a vanitas dos meandros civis ou dos recantos mais ou menos obscuros dos quartéis. este livro também é uma lição de jornalismo literário, tendo em conta o trabalho de pesquisa, as fontes, a interpretação das mesmas, o tom e os recursos estilísticos a que o autor recorre. embora o assunto seja distinto, aqui percebem-se também algumas dinâmicas que explicam porque é que, por exemplo, a questão catalã é tão sensível. há várias razões para isso, uma delas é a espinha encravada da transição, por oposição à revolução portuguesa, que permitiu ao franquismo e ao centralismo um sobreviver fora de tempo. enfim, há muita informação por digerir, mesmo em relação a personagens que nada nos dizem. mas num momento trágico, com militares de armas em punho dentro do parlamento espanhol, houve três homens que não se jogaram ao chão. esta é, entre outras coisas, a narrativa deles. a radiografia deles. 

edição dom quixote

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por Pedro Vieira às 19:19

Quarta-feira, 25.10.17

prémio saramago

julian fuks.jpg

li "a resistência" em abril de 2016. escrevi então o que se segue. acrescento apenas que ao Julián Fuks, agora prémio saramago, sobra aquilo que eu cobiço: inteligência, abstracção, síntese. bravo.

 

 

à luz da raiz escolar que nos fica para a vida é oficial que não sou de letras até porque, convencido da importância dos meus guaches e do meu traço tosco, fui pelas artes e ciências, desenho, geometria e matemáticas, pastéis de óleo e físico-químicas. resultado: chegado ao ensino superior percebi que não sabia ler, interpretar, e agarrei-me aos poucos conceitos que compreendia, como por exemplo "é impossível não comunicar", da autoria de paul watzlawick, fugia do lyotard e do baudrillard a sete pés e pensava em aguarelas, águas fortes, e num deus que me ajudasse a não deixar cadeiras para trás, e agora, tantos anos depois, cruzo-me com um romance que é todo ele watzlawick, porque n'a resistência é impossível não comunicar, é impossível não pensar, porque o silêncio grita, e os ausentes marcam presença, e os medos de carne e osso vivem naquelas cabeças, e as acções de agora decorrem na memória. um livro escrito, pensado, reflectido, feito de economia narrativa e abundância de ideias, livro que corta cerce, se fosse crítico e tivesse de oferecer-lhe estrelas ficava-me pelas quatro e meia porque para chegar às cinco precisava de sentir vísceras, um grama de descontrolo na narrativa, nas personagens, que não está à vista. um grama de humanidade que, paradoxalmente, tem de estar lá, porque é impossível escrever se não formos humanos. porque é impossível não comunicar, e obrigado pela viagem aos medos passados e futuros, julián fuks. deus, que não deixa cadeiras para trás, é mesmo brasileiro.

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por Pedro Vieira às 20:43

Sábado, 21.10.17

cadernos de leitura #7

czar.jpg

nada como um bom sistema concentracionário para se ancorar uma verve inteligente, perspicaz, cheia de wit, à falta de uma palavra melhor em português. "o czar do amor e do tecno" tem essa verve e tem a capacidade de nos colocar perante o absurdo da vida humana. na rússia ou noutro lugar qualquer. mas a pátria de lenine, putin e dos ursos colhe melhor na imaginação do leitor. e no entanto, apesar de muito bem documentado e de escrever com uma sagacidade notável, falta ao autor aquilo que ele encontra aqui e ali nas suas personagens: a tragédia de se nascer russo, com tudo o que ela implica, nomeadamente a nível literário. e se o livro nos mergulha de forma satisfatória naquele universo, o autor nunca deixará de ser um estrangeiro. é que o abismo daquelas almas já foi dissecado pelos maiores. as contradições, a cobardia, as ilusões, alguma universalidade, até, por paradoxal que possa parecer. todos nos revemos neles. o que não é o mesmo que escrevermos sobre eles. e mais. tanta personagem com tão apurado sentido de humor, caramba, chega a ser mais inverosímil do que o brilho encerado do bigode de estaline.

 

edição teorema

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por Pedro Vieira às 23:02


pagamento de promessas para

irmaolucia[arroba]gmail.com

teologia de pacotilha (descontinuado)

professor josé cid

o meu outro salão do reino (descontinuado)

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